sábado, 25 de novembro de 2017

Rotina


É como se eu me revestisse de luz, toda vez que tenho a oportunidade de ser infinito. Deitar e aninhar a cabeça no cantinho do pescoço, com aquelas mãos dadas e dedos entrelaçados, é o melhor momento do dia.

Desconhecer meus limites, arriscar ir mais longe, mais fundo, com outros ângulos, outros gemidos e as mesmas garras enterradas no lençol. Sou domador de sentidos, modelador de desejos, descobridor de alternativas, mas nunca cedo ao primeiro obstáculo.

As letras fluem, conversam entre si, até formar palavras que se aninham numa frase meio complexa, bem fodida, mas extalmente o que sinto ao dedilhá-las. As vezes a métrica é imperfeita, mas mesmo assim é necessária. O sentido é subjetivo, fica escondido debaixo de um tapete argumentativo, mas, ao ler com o coração manso, descobre a beleza rara que ele guarda.

O desejo mesmo é que seja rotina, que a felicidade administre o tempo, já que ele, por si só, não se contenta em correr. Driblá-lo é sempre o maior desafio, mas já desisti. Os amantes correm contra o tempo, e é por isso que ele corre pra nós. Temos que congelá-lo no beijo, arrastá-lo no abraço e eternizá-lo despindo a escuridão.

@cragfilho